Crítica: "7 Gatinhos", de Nelson Rodrigues, ganha montagem visceral no Teatro Oficina

A cena teatral paulistana foi agraciada com uma nova e instigante montagem de "Sete Gatinhos", clássico atemporal de Nelson Rodrigues, que estreou em 10 de junho de 2025 no lendário Teatro Oficina. Imortalizado pela genialidade de Zé Celso, o Oficina, sob a direção de Joana Medeiros, mais uma vez prova ser o palco ideal para a exploração de narrativas complexas de forma não convencional, oferecendo ao público uma experiência teatral imersiva e inquietante.

Sete Gatinhos - Créditos Pedro Martins

Nesta versão de 2025, "Sete Gatinhos" transcende a ideia de uma peça estática. A direção de Joana Medeiros soube aproveitar de forma brilhante os espaços variados e singulares do Teatro Oficina. O público é convidado a uma verdadeira viagem pelos diversos cenários espalhados pelo palco e pela estrutura do teatro. Essa disposição dinâmica das cenas cria uma sensação quase cinematográfica, onde a história se desenrola em múltiplos pontos de vista, quase como um filme, mas com a imediatez e a visceralidade do teatro acontecendo bem ali, diante dos olhos dos espectadores. É um convite a uma experiência sensorial e espacial que desafia as convenções do palco tradicional.

A proximidade entre o público e o elenco é um dos grandes trunfos desta montagem, elevando o nível de imersão e conexão com a história. De cada canto do teatro, o espectador tem um ponto de vista único que permite acompanhar grande parte do que está acontecendo. Nos pontos onde a visão natural não alcança, telões estrategicamente posicionados transmitem em tempo real as cenas, garantindo que nenhum detalhe da trama ou da interpretação se perca. Essa fusão entre o presencial e o virtual, o íntimo e o expandido, é um testemunho da capacidade do Oficina de inovar e envolver seu público.

A peça, fiel à obra de Nelson Rodrigues, mergulha na visceralidade das relações humanas, tendo como pano de fundo a efervescente e, por vezes, sórdida, cidade do Rio de Janeiro. A trama de "Sete Gatinhos" acompanha o desmoronamento de uma família quando a filha caçula é expulsa do colégio interno e se vê enredada em um triângulo amoroso. Esse evento catalisador deflagra um turbilhão de emoções, segredos e acontecimentos que arrastam toda a família para um abismo de verdades e desilusões. A montagem do Oficina capta com maestria essa espiral dramática, expondo as fragilidades e as hipocrisias dos personagens de Nelson Rodrigues.

Quem conhece o Teatro Oficina sabe que entrar em suas portas é estar de cabeça aberta para uma forma de fazer teatral fora do convencional. A direção de Joana Medeiros demonstra um entendimento profundo do espaço e do texto, potencializando as possibilidades cênicas e extraindo o máximo do talentoso elenco. As atuações, intensas e cruas, são um reflexo da imersão que o próprio espaço proporciona.

Fazendo um paralelo com outra icônica obra de Nelson Rodrigues, "Toda a Nudez Será Castigada", pode-se dizer que, nesta montagem de "Sete Gatinhos", a nudez, seja ela física, emocional ou moral, não é castigada, mas sim explorada de forma natural. Ela emerge como um elemento intrínseco à história, revelando as camadas mais profundas e as verdades incômodas dos personagens, sem pudores ou floreios desnecessários. Essa honestidade cênica enriquece a experiência, tornando-a ainda mais potente e relevante.

"Sete Gatinhos" no Teatro Oficina é uma oportunidade de revisitar um clássico de Nelson Rodrigues sob uma nova e ousada perspectiva, em um dos templos da dramaturgia brasileira.


Serviço:

7 Gatinhos

de Nelson Rodrigues

Divina comédia em 3 atos

Uma criação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona

Direção: Joana Medeiros


Datas: 10 de junho a 23 de julho (terças e quartas)

Horário: Sempre às 20h

Local: Teatro Oficina - Rua Jaceguai, 520 - Bixiga, São Paulo - SP

Ingressos: à venda pela Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/106243

R$ 70 (Inteira)

R$ 35 (Meia)

R$ 25 (Pessoas moradoras do Bixiga - direto na bilheteria, 1h antes do espetáculo)

Classificação Indicativa: 16 anos

Duração: 2h30


Resenha crítica por: Caroline Soares



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